ONDE JAZ A FÉ
A janela estava aberta,
apenas o vento se encarregava
em produzir notas em suas dobradiças.
A janela, em duas folhas,
esbanjava preguiça para se movimentar,
não queria estar fechada;
parecia estar esperando alguém entrar,
não pela porta, mas sim pela dita janela.
Era um quarto escuro, uma vela apagada,
um terço de contas jogado no andor,
desprovido de fé, de esperança e espera.
A fé no que haveria de chegar,
tinha que ser um corpo de carne,
sem asas nos ombros, com asas nos pés
para caminhar mais rápido, ao encontro
do corpo que jazia sem fé,
à espera do anjo da guarda,
pronto para competir com o rival,
o anjo da morte, o assassino dos sonhos,
aquele que sugou o sangue da donzela,
feito um vampiro.
Quando a vela foi acesa,
os corpos ficaram nus, quebraram o terço,
jogaram as contas no cesto de lixo.
A fé de cada um deles, era ser eterno
na luz e na escuridão de si próprios.
...
Pedro Matos