ALINHAVANDO O TEMPO

Nos dias retalhados,

a linha não salta dos olhos,

ela custura por dentro,

remendando o que parece

não ter concerto.

São mãos apalpando

algo que ainda possa estar seguro,

que não tenha vazado nos poros

na forma de lágrimas.

São linhas de um desenho

num horizonte tão longe,

de uma luz minguante

num pavio atrofiado,

submerso na pasta do estômago.

Uma vontade de expelir

os pensamentos indigestos,

alinhavar longe de si,

os retalhos puídos de cada dia;

ilustres pensamentos

dignos de defecção.

Se os olhos não conseguem

ver a linha do tempo,

nem pontuar as horas do fim,

torna-se imprescindível

olhar para dentro mais uma vez;

encontrar-se, auto-examinar-se,

alinhavar outros remendos,

longe do pano presente.

...

Pedro Matos

Pedro Simao Rocha Matos
Enviado por Pedro Simao Rocha Matos em 06/10/2015
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