UM DIA E OUTRO

Um dia a gente perde, para e se cansa.

No outro descansa e no outro avança.

Um dia sorve, enxuga, absorve, se controla.

No outro bebe, perde a linha, o caldo entorna.

Um dia, se chora, grita, esperneia, desafora.

No outro acalma, aquieta, respira, melhora.

Um dia o ritmo é frenético, corrido, trejeito.

No outro tem paz, salvando a alma no peito.

Um dia a gente pede pra ser tudo diferente.

No outro só quer que seja igual para sempre.

Fui eu? Foi você! Um dia o dedo só aponta.

Um dia acerta... no outro erra... desaponta.

Um dia, cresce, desmama, inflama e aflora.

No outro, murcha, míngua, encolhe e chora.

Um dia a gente segue, persegue e consegue.

No outro relaxa, escapa, se perde e esquece.

Um dia e outro transgredindo seu fino limiar.

Ferindo a linha tênue entre o odiar e o amar.