O poeta e o mundo

A inspiração calou-se diante da pia

e a poesia desceu pelo ralo.

Foi um desses momentos tão raros

que o poeta perdeu para o dia.

A inspiração é tão fugidia...

É preciso grafa-la rapidamente.

No entanto, a mão molhada rasga o papel

e o poeta em agonia

não sabe se cuida da casa

ou se faz poesia.

Mas, que importância tem

os afazeres mundanos

comer, trabalhar e morrer

se o poeta sabe de cor

que só poetar é viver.

O mundo não sabe de poesia.

Apenas quer do poeta

a força dos braços de um serviçal.

Mas, se o sal for insípido

com o que se há de sonhar

como porque prosseguir, navegar.