Grito no Silêncio
Há quem diga que quem aceita, desiste.
Discordo.
Me recuso a pensar que minha vida é uma série de desistências.
Ao nascer, aceitei a palmada do médico.
Ao crescer, aceitei o mundo em que vivemos.
Agora, aceito as porradas que recebemos de tudo e de todos.
Na verdade, quem aceita, resiste.
O único modo de sobrevivermos com algum resquício de felicidade,
É a resistência,
É a teimosia,
É a ousadia de acordar todo dia,
E mais uma vez apanharmos,
Para deitar nossos corpos cansados,
Derrotados mais uma vez no final do dia.
Porém, com a consciência de que mais um dia se passou,
Na esperança de calejar-se para que os outros que vêm não sejam tão [dolorosos.
Alguns dias sinto que não vou mais agüentar.
Sinto raiva, ódio, tristeza e inveja.
Sinto-me miserável,
Mas sei que não posso desistir.
Quando nasci, fiz um pacto.
Junto com todos que nasceram, nascem e nascerão.
Aceitamos resistir cada dia bravamente.
Com que intuito?
Não sei.
Mas eu não posso voltar com a minha palavra.
Uma das poucas armas que tenho.
Quem sabe um dia,
Eu entenda o por quê.
Da minha luta, da minha força.
E descubra o tom do Blues que tocaram pra mim assim que nasci,
Para que assim eu também possa sofrer em tons menores,
Junto dos que sofrem calados por terem muito a dizer.