VELHA DAMA DA NOITE

Velha Dama da Noite,

teu passado te perturba.

Hoje Velha sem Galanteios,

magra e viciada, de flácidos seios,

vive a vida em devaneios.

Tempos passados, em que fostes usada,

comprada, vendida, emprestada,

à loucos sedentos de Prazer e Loucuras.

Era tua Vida, para muitos Fácil,

mas na realidade dura,

tua pior loucura.

A Droga tua companhia,

misturada com whisky,

e outras de igual teor,

te deixavam feliz, mas de alma vazia.

Fostes Dama Sedutora,

usurpadora do Amor.

Eras vendida por alto preço,

esse foi teu começo.

Tinhas apenas o teu Feitor.

Teus seios murcharam,

ficastes isolada,

só a droga te consolava.

Nunca tivestes um Amor,

ninguém que te desse valor.

Teu valor era claro e tabelado

eras vendida, e usada. Sofrias.

Assim eram teus dias.

A Droga te acompanhava,

diminuía a dor e a certeza

de seres algo sem valor.

Apenas o teu Feitor te dava o valor,

outros dirão: o que era teu Cafetão...

Nada valias, só tinhas preço,

dez minutos de começo,

de sexo sem nexo, avesso.

Voltavas à porta do teu escritório

e chamavas teu próximo freguês.

Teu trabalho era Notório.

Alguns te idolatravam,

como Princesa te tratavam.

Outros contigo faziam o que queriam.

Não tinhas forças pra fugir,

e lá ao final do dia, de madrugada,

já quase desesperada,

consumias a droga que te consolava.

Hoje Velha abandonada

a pedir esmola, sentada na escada

da Igreja , onde à noite,

dormes no chão,

teu melhor colchão,

pois ninguém está contigo.

Até que um dia um velho Padre

as portas da Sagrada Igreja te abre.

Te pega pela mão,

te dá água e Pão.

Lá vez Nosso Senhor

de braços abertos na Cruz.

O Padre pediu que entrasses

que a tudo olha-se.

Viu Santos, Mártires e Sofrimento

lembrou-se do seu tormento.

O Padre disse Calmo e Lento:

-Aquele homem é Jesus,

que perdoou Madalena,

por sua falhas e por Pena

disse-lhe que se arrependa

e assim o fez.

Lhe deu o Pão da Vida

e lhe disse:

-Este é Meu Corpo.

Pegou uma taça de Vinho e disse:

-Este é meu sangue.

A Velha Dama sentiu profundo arrependimento

e começou a chorar.

Ajoelhou-se no chão e pôs-se a orar.

Sentiu por um Momento

grande Constrangimento,

Alegria e Contentamento.

Lembrou-se do seu tempo de criança

em que seu pai a balança,

a ergue nos Braços,

e lhe diz quanto à ama.

Quando a levava para a cama,

contava histórias para dormir.

Tempo que queria que voltasse a vir.

Mas não. Era passado,

fugiu de casa com seu primeiro namorado,

e este seu amor desde então

tornou-se seu único e furioso Cafetão.

Tudo estava Perdido.

Dentro daquela Igreja

finalmente se arrependeu,

do passado que havia tido.

Levantou-se. O Padre havia sumido,

mas como seria possível.

-Hoje estarás Comigo.

Ouviu, mas não tinha sentido.

O que era aquilo?

Achou que estivesse louca,

mas de dentro de sua boca,

saiu sangue, parecia maluca.

Tendo alucinação.

Procurou o Padre mas ninguém encontrou;

com água da Pia Batismal se lavou.

Voltou para a frente da igreja

já era noite fria e se deitou.

Antes de dormir rezou,

como se fosse criança.

Achou a tudo isso Lindo,

finalmente dormiu sorrindo

com o coração cheio de esperança.

Neste Mundo não mais acordou,

foi sepultada como indigente,

finalmente voltou à ser Gente.

Graças ao Pai descansou.

NELSON TAVARES

Nelson Tavares
Enviado por Nelson Tavares em 29/10/2015
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