PREDESTINADOS VIVENTES
O chão está se rachando debaixo dos pés
nenhuma gota d'água para aliviar as feridas
o mar está muito distante, é preciso correr
se a chuva caísse agora, eu pediria para
nadar na sua correnteza.
Fogo debaixo dos pés, fogo vindo do céu,
água da chuva, água do mar,
chuva vindo com asas, varrendo tudo,
levando pra longe.
Brasas que não se apagam,
fogo descendo do céu, almas furiosas
forjando o desterro, diáspora maldita
descendo com grande fúria, julgando culpados
e inocentes.
Em qual pedra hei de me esconder?
Com quais folhas hei de me vestir?
Como irei me salvar de tal perverso juízo?
Para que foram feitos os viventes?
Para a natureza se divertir, e deles se alimentar?
Noite e dia os bichos tentam fugir,
mas a natureza os persegue.
Nem céu nem inferno, nada que possamos esperar,
tudo queima debaixo dos pés, até as cinzas
gostariam de voar, para não terem que passar
pelo mesmo fogo que a tudo consome,
dia e noite... noite e dia.
A natureza faz florescer por breve tempo;
o sol é seu companheiro, cúmplice na tarefa de nos
transformar em cinzas.
As brasas queimam nossos pés;
a língua torna-se labareda lambendo a chuva,
antes de alcançar os rios, além do tempo,
quando o oceano nos der a eternidade como prêmio.
...
Pedro Matos