PREDESTINADOS VIVENTES

O chão está se rachando debaixo dos pés

nenhuma gota d'água para aliviar as feridas

o mar está muito distante, é preciso correr

se a chuva caísse agora, eu pediria para

nadar na sua correnteza.

Fogo debaixo dos pés, fogo vindo do céu,

água da chuva, água do mar,

chuva vindo com asas, varrendo tudo,

levando pra longe.

Brasas que não se apagam,

fogo descendo do céu, almas furiosas

forjando o desterro, diáspora maldita

descendo com grande fúria, julgando culpados

e inocentes.

Em qual pedra hei de me esconder?

Com quais folhas hei de me vestir?

Como irei me salvar de tal perverso juízo?

Para que foram feitos os viventes?

Para a natureza se divertir, e deles se alimentar?

Noite e dia os bichos tentam fugir,

mas a natureza os persegue.

Nem céu nem inferno, nada que possamos esperar,

tudo queima debaixo dos pés, até as cinzas

gostariam de voar, para não terem que passar

pelo mesmo fogo que a tudo consome,

dia e noite... noite e dia.

A natureza faz florescer por breve tempo;

o sol é seu companheiro, cúmplice na tarefa de nos

transformar em cinzas.

As brasas queimam nossos pés;

a língua torna-se labareda lambendo a chuva,

antes de alcançar os rios, além do tempo,

quando o oceano nos der a eternidade como prêmio.

...

Pedro Matos

Pedro Simao Rocha Matos
Enviado por Pedro Simao Rocha Matos em 27/11/2015
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