O País dos Ideais

As ruas imundas abarrotadas de gente

Meros detalhes de decoração estragando a arquitetura

Um projeto tão bem ensaiado

Uma construção com paredes de segregação

O garoto negro que vende balas no semáforo ao sol de meio dia é um super heroi

Tem o poder de tornar-se invisível...

Aquela mulher violada é, com certeza, extremista

Olha esse batom! Que puta... tava pedindo.

Que ser desprezível

O país inteiro vai mal

Também, pudera, esses pobres sugam tudo

O cidadão de bem que paga a conta

Mas não aquelas sonegadas

Nem com aquele dinheiro do banco na suíça...

O garoto negro foi morto naquela operação policial

Com certeza era bandido

Do contrário, o que faria abordando os carros naquele semáforo em pleno domingo?

A moça foi espancada pelo namorado

Com certeza mereceu

Deve tê-lo desonrado

E que homem seria ele pra aguentar desaforo de mulher calado?

E assim tá tudo certo

A novela mostra o padrão de vida perfeito

A mídia, o País das Maravilhas...

Não há desigualdade

Eles te dão o discurso da meritocracia

Discursam sobre a família tradicional

Numa tradição de preconceitos

Fazem cultos no congresso do estado laico

Aprovam leis com embasamento religioso

Mas só se a religião for a deles

A de outrem é invocação ao mal

São eles os homens de bem...

Me contaram sobre a liberdade, privando-a

Comentaram acerca da democracia, reprimindo-a

Ouvi falar em vitimismo...

Gabi Lima
Enviado por Gabi Lima em 12/02/2016
Código do texto: T5541755
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