Imaginação mestiça

A imaginação dentro de seu raro aço,

Desembaraço das peças da adivinha,

Das vinhas – o vinho e o ‘barato’ – num corte

Espadas, esporas, gumes de facas

Os escárnios dos abstêmios, todavia...

Faz louca e bem-vinda toda a vida,

Sua moradia em peles ambíguas:

Branco no brando do plácido coelho;

Ao réu e aos ratos é cingido na cor cinza...

E impura e sinistra e baldia.

Bombas ao baixo, mãos ao alto, bom dia

Violência chorando na esquina chuvosa...

O touché na esgrima fez pontada na costela;

Eu e ela, vale a rima do nosso arrimo, nebulosa,

Sutileza e sangria e doce e vinho – melancia.

De aprontado feitiço nascem como hortaliças,

Nas ruas as nuas imagens em paragens insanas;

São fálicas e frígidas, finas piolas nada pulcras.

Tudo ao teor do amor e do terror da fantasia.

Esculpidos e arrazoados vemo-nos em vigília

Ao renascerem belas múmias e inspirações extintas

No horizonte o assombro de um alto monte

Ao montante o tanto não vale a sombra no vale...

A imaginação eclode da sua armadura mestiça.

André Anlub

(2/1/16)