A CIGARRA, A FORMIGA, O ZANGÃO E O PIRILAMPO

Amei encontrar hoje,

após hibernal ausência,

Terezinha sentada na torre

do meu castelo de paciência.

- Zezinho, demoraste!... por que?

não sabias que venho ao por-do-sol

da última semana do lazer

temperar a nova pele pro arrebol?

- Sucedeu, Terezinha,

tão grande e tamanha desdita,

que ao falar a voz definha,

ao lembrar o pelo eriça.

Foi na terceira lua nova,

depois de delirante canto,

que Aninha pôs à prova

o amor de um pirilampo.

Saíram noite afora

apaixonados num límpido trinar,

enamorados num fulgurante brilhar.

Esqueceram-se da hora!...

Com o espinheiro em alarido

o dia seguinte amanheceu.

Inquiri, responderam: de canto incontido

Aninha adoeceu.

Chá de botão de laranjeira,

canela com limão picado,

entra e sai de rezadeira,

o pirilampo desolado.

Sabendo ser de sorte,

o besouro seresteiro

foi buscar seu camafeu,

num recurso derradeiro.

Inútil. Aninha morreu.

- Felizes somos nós, querido zangão,

que cantamos feio e forte.

Isso é pouco?... não,

trabalhamos. Eis a nossa sorte.

JOSE ALBERTO LEANDRO DOS SANTOS
Enviado por JOSE ALBERTO LEANDRO DOS SANTOS em 24/02/2016
Código do texto: T5553567
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