Sou do cerrado

Eu sou o inconstante, cerrado

Cascudo, tortuoso, árido barro

De plano e desigual traçado

Sou flor, cascalho, piçarro

Espírito aveludado e sulcado

Eu sou a areia, a pedra, o ar

A fonte original do ser amado

Filho da gariroba, buriti, açuá

Adormecido ao som da seriema

Razão de ser, pois aqui é meu lugar

Onde arado, foiça e ara os meus poemas

E no riacho a paca é alvo de paquerar

Sou a dura lida do lavrador que da terra é emblema

Sou palha de sapé, casa de pau a pique, lar

Sou o monjolo que pila e move a vida

O machado que corta a lenha pra cozinhar

Sou o esforço suado, quimera aqui parida

Sou poeta do cerrado, místico, santuário e altar

Do reisado, da catira e sua tradicional batida

Aqui vai repousar o meu olhar...

Neste cerrado versado, torto, certo e errado...

Que o desencanto encanta o poetar...

Onde o dia tem um fim, mas todo final é um começar.

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado

10/03/2016 - Cerrado goiano

Luciano Spagnol poeta do cerrado
Enviado por Luciano Spagnol poeta do cerrado em 10/03/2016
Reeditado em 02/04/2022
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