Devaneio costumeiro

Parei e comecei a olhar em minha volta

Vejo tudo e ao mesmo tempo nada via.

Está escuro, um vento frio que surge das árvores bate agressivamente no meu rosto, jogando o cabelo para o lado.

Sou eu em mais um devaneio costumeiro.

Eu sou um andarilho sem direção, sem rumo, sem chão, sou como um vampiro em busca de sangue,

Como o assassino apreciando a próxima vítima,

Sou o gato que mata o rato,

Sou como as águas dos rios que mata afogado,

Sou a maçã podre da da flor podre.

Me sinto em queda livre no vácuo.

Sou um pirata que não sabe navegar pelos mares,

Um poeta que não aprendeu a rimar, um beija flor que não gosta de cheirar,

Sou como a lua que não tem luz própria,

Carrego uma bússola, e continuo perdido na complexidade da vida.

Me contento com a tristeza,

Lamento a felicidade.

Não consigo me encontrar dentro deixa caixa vazia,

Lá fora nada posso ver, alguém me olhando, não consigo ver.

Meu olhar anuviado, olhos cinzentos, sorriso sem vontade.

Jogaram-me numa panela quente de dúvidas e indecisões,

Cozinho meu corpo no sangue frio até a carne se desmanchar.

Estou dentro duma lata de lixo e tudo aqui são fragmentos do eu sou.

Por onde eu andar o chão poderá ouvir os meus passos tristes,

Talvez eu seja como uma folha que caiu, sua história chega ao fim, como um cigarro em cinzas, fogo consumindo-o até o último instante, are declarar o fim, não ouço gritar.

Sou como aquela velha música no último segundo, última palavra sussurrada...

Quem poderá me dizer para onde irei ?

Enquanto não me encontro nesse inferno, não sei se sou um pesadelo da criança, ou o sonho, ódio do adulto, ou o amor.

Abre caminho para pisar nas feridas mal curadas.

Me encontro com esse lápis,

Escrevendo palavras tortas,

Pisando em falso, com uma faca enfiada no peito.

O tempo é a voz da sabedoria,

Espere, me fale! Qual esquina virarei?

Tenho tempo ? A morte me abraçará amanhã?

Ou até mesmo agora, deixando esse poema incompleto?

Verei o terrível sol ardente amanhã ?

Me diga, o que sou...