Sem título(85)

Eu quero escrever um poema que seja inverosímil

Eu quero alcançar o verso que te toque, que seja o verso irresistível

Eu quero o gozo da palavra na palavra incompreensível

Eu quero fazer do amor o acto irrepetível

Tu queres as minhas mãos no teu corpo susceptível

Tu queres na tua boca o beijo hipersensível

Tu queres fazer da minha vontade o querer imarcescível

Tu queres a minha alma no teu corpo invencível

Eu quero-te por toda vida imperecível

Eu quero-te na derrota da palavra impossível

Eu quero-te dentro de mim a meus olhos sempre visível

Eu quero-te sempre liberta e imperdível

Tu queres-me clandestino ou invisível

Tu queres-me sem me querer no acto exequível

Tu queres-me num imaginário quiçá plausível

Tu queres-me com medo do medo de tudo ser possível

Eu quero no gesto imponderável ser-te sensível

Eu quero não temer em ti o imprevisível

Eu quero ser por ti sempre tangível

Eu quero manter este desejo irredutível

Tu queres hesitar e fazer-te inatingível

Tu queres esquecer, fugir e fazer o inconcebível

Tu queres calar a palavra imprescindível

Tu queres em verdade saber-te impreterível

Eu sei da nossa imensidão indestrutível

Tu saberás que te sei inconfundível

Dionísio Dinis