ECOS... quase universais.

Sem querer tirar ao leitor

o prazer(espero!) de "descascar"

o enredo de um texto poético,

apetece-me aventar a ideia

que nos remete para aquelas

imagens/instantâneos de uma vida

que recolhemos com algum carinho

no álbum da memória

para poder revisitar a bel prazer.

Aí está o enredo:

o ritualismo laico da saudade

e a minha fé é que estes rituais

são matéria autenticamente

universal.

Gosto do universal.

[Ecos]

O meu presente e futuro

têm alicerces, fundações,

tudo muito prendado,

“a pontos de” disporem até

de um claustro de mármore

e uma formidável clarabóia

correctamente sobranceira

ao nível do meu sótão.

Como está bom de ver

estes recantos encerram,

muito saudavelmente,

certas ressonâncias,

determinados ecos,

ora ténues e delicados

ora muito bem sonantes.

Por esses meandros

os meus ouvidos

arvoram-se em atalaias

e todo eu escuto

perscrutando os domínios

dos tempos que ficam.

De algures uma fala:

“A batata é prós porcos!”

Escutem só, ali adiante:

“Testamento... é por boca;

pela palavra dada

em ser dita... ser digna!”

“Quanto não vale a honra?”

Não são já os ecos

de passadas mas de acasos;

é a cadência das vozes

tão mais velhas

que os pés ou o soalho.

Apuro os sentidos

e entendo que

“Aqui em baixo, na loja,

os animais repousam, mansos.

Arrebanhados no rés-do-chão

aquecem-nos a casa.”

Não são ecos, ou serão?

São certezas ancestrais

que me deixam um espaço

lúcido e sóbrio

um legado vívido e parte

do quanto me é o todo.

A começar pelos vultos

banhados em penumbra,

aliás, como o do meu avô

que ninguém imaginava

ser suicida.

Saiu para a noite

no meio de um nevão.

Quase juro que ele sentiu

que aquele era o temporal

em que o esperava a morte.

...

“... E não nos deixeis cair...”

diria ele, então.

Agora, digo eu, ou, interpreto

a resultar mais ou menos nisto:

Partindo de “A”,

passando por “B”

desviando em “C” e caindo...

virtualmente... em tentação...

e quem virá que nos livre

do mal... ó Mãe!?

.

______________________LuMe

Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 04/10/2005
Reeditado em 06/02/2018
Código do texto: T56408
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