Beleza Fabricada
A perfeição de um rosto, corpo,
O manequim trinta e seis,
Beleza fabricada, inventada, retorcida, distorcida,
Uma embalagem impecável,
O belo que é associado a um padrão,
Tido como norma, imposição,
Repuxa daqui, desmantela dali,
Nesse vai e vem só se ouve o som do bisturi,
Remodelando, reconstruindo novas faces,
Como quem está diante de uma escultura,
Esculpe a seu gosto,
Mexe um pouquinho no busto,
Seca o abdômen,
Afina a cintura,
Empina o bumbum,
Arrebita o nariz,
Ainda não está pronto,
Coloca mais silicone,
Modifica, desestrutura, plastifica,
Como se a beleza estivesse sobre a mesa de cirurgia,
Venham todos curar os males!
Renovar suas vidas!
Corpos plastificados, retorcidos, mutilados,
Uma intervenção atrás da outra,
No final de tudo isso não é possível reconhecer o ser humano,
Só uma dúvida, por acaso nos relacionamos somente com os corpos?
O corpo é apenas abrigo de uma existência,
Morada de uma alma,
Pode até ser o primeiro atrativo, mas e após isso, resta alguma coisa?
Ou somente um amontoado de partes suculentas que com o tempo perde o sabor,
O belo que a sociedade inventou é um cárcere,
Uma beleza que não aceita o jeitinho de ser de cada um é sistema ditatorial,
Fazer parte disso é como tentar caber dentro de uma caixinha e ficar exposta numa vitrine,
Uma série de bonecos perfeitinhos, sem expressão,
Sem vontade própria, sem movimento,
Grande engano e desperdício é a beleza perecível,
O mundo está cheio de criaturas monstruosas encobertas por rostinhos angelicais.