monólogo

necessito dizer tanta coisa engasgada
parada dentro de mim
preciso falar com você
preciso ouvir
sentir sua voz
seu gesto incerto
seu olhar mostrando os luminosos
[duvidosos]
uma faixa horizontal
com tintas coloridas
[doloridas]
exibindo o novo comercial...

vou falar do novo edifício
erguido sem muito sacrifício
[a não ser algumas vidas]
que alargaram as avenidas
descongestionando o tráfego!
quero ouvir você dizer com alegria
vamos ver sessão nostalgia... *

corremos de mãos dadas
entrelaçadas
sem olhar para trás
sentindo o vento
batendo atento
sem nenhum desgosto
em nossos rostos...

ouço o som de uma artilharia
[não é nada]
apenas alguns soldados
treinando a pontaria!
a guerra ainda não veio
[não foi oficialmente declarada]
para que se preocupar
se estamos alheios...

caminho devagar
eu pergunto você responde
por acaso esconde algo de mim?
oh para que esconder
bem vê que o caminho é breve
e nem de leve pensei em parar de falar...

aqui nos separamos
preciso ir
você há de convir
falei sozinho
pra mim e pra você
até logo
breve nos veremos
pra outro monólogo...

* Série de filmes que eram exibidos no Cine Roxy (BH) nos anos 70.


 
escrito em maio de 1974 - poema que integra o meu livro semi-artesanal Nas Águas do Arrudas - edição 1984 - esgotada. (geração mimeógrafo). Capa, ilustrações: Berzé. 


LIVRO, UM PRESENTE INTELIGENTE!!!

Está no ar meu último lançamento Estrelas (poesias) - A Moça do Violoncelo (contos de mistério). Dois livros em um; duas capas com orelhas em papel laminado. São 176 páginas R$25,00 (frete incluso).


Imagem: lj