Poente

O peito queima

arde

se faz cinza viva

respira exposto

vencido de viver

molhado, encharcado

transbordando em lágrimas

pela simples existência

pela mera falta

de alguma coisa

enquanto se tem o necessário

enquanto se falta o inimaginável

na espera eterna do viver pleno

inatingível

nessa atmosfera

que me atordoa, me enche

e me faz seguir em frente

por um motivo bom, como soa o som

daquela velha música que nunca se tornará abuso

e preenche a cada dia

o mesmo vazio que insiste

em se abrir da descostura

que fazemos a cada adormecer

e seguramos a cada nascer do sol.