Ao velho que chora a morte de seus entes queridos
Por alguns instantes, tu voltaste a ser criança
e choraste desamparado
nos braços deste grande pai que é o acaso.
Um choro incontido, de quem não aprendeu ainda
que a vida é incorrigivelmente falha, e nós,
gotas de vento na eterna jornada do oceano.
Choraste pela falta do signo.
Vocábulo, cruz, o gesto das mãos; nada além dessa infância sem palavras
que transborda da tua idade vã.
E te sentiste fraco, insuficiente,
perante o giro das coisas.
Esperavas a mão materna, que não veio.
Veio a madrasta
e disse:
— Os teus já não sofrerão mais.
E tu, tão pequeno quanto a semente envelhecida,
te debruçaste sobre a lama,
desenhando o teu rosto na água turva das mãos.