poema

e os cenários púbicos encenam vocábulábio lírico

a mão invisível do tempo modela luvas novas

na abóbora de fogo e vento

modula cenas para aquarelas

e assovios para saltimbancos

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canções d'água, flores de mórula e algas

estribilhos de pés serpenteando estradas

não descansa nem dorme a sarça da nódoa

formiga o fruto aceso no osso

caminho de histórias

volta desassossegada de ocasos

e tempestades d'águas

**

lagoas secaram antúrios e rios se floram a céu aberto

peixes desembocaram em secas de açudes

renasceram dentro das doces amêndoas

para desafogarem asas dos olhos, o vocábulo do colo

e um buquê de anêmonas

no miolo da conha o silêncio,

nem som de pálpebras nem tigres de lágrimas

nem luzes do mar que explodem o arpoador nos arrecifes

só templários de sal e um mapa de corais

ah, o tempo... exilado no solstício ardendo no íntimo cais

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ancorar oquidões e quintais

e na veemente volta do passo

rasgar o efêmero, revelar fendas punhais

abocanhar penhascos pássaros

carregar nos dentes os percalços

e no flanco o preclaro açoite do temp(l)o

com olhar de espelhos trêmulo de arlequim

reelaborar as perdas como se fossem pedras pardais

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andrômeda_mente sarça de avencas

no barro o íntimo ocre-ave e álamo

esculturas suspensas nomeadas de caos

avesso bálsamo

bosque de búzios

e fonte de fráguas

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abro os olhos e o destino é um nódulo-pérola

ancorado na concha do tempo

horizonte deserdado do ventre

o temp(l)o de ser é ágora de agora.

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Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 17/10/2016
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