Canto Sem Cor

Morte era a minha face quando me faltavas a qualquer hora,

E meus passos plantavam dores pelos latifúndios

Quando teus olhos já não eram minhas luas.

Em que terras pisavas que não percebestes que nevava aqui dentro?

Em que terras pisavas que não percebestes que eu tinha pesadelos?

Pernas moribundas me moveram a esmo.

Eu que já morria de medo dos olhos meus sem o brilho dos teus... Eram luares!

Onde estavas que nem me viu chorar?

Não há mais esperança de futuro em nós.

Nunca a vimos e nem a veremos.

Veja detrás dos arbustos que se movem mansamente agora:

Nossos dias eram mentirosos, nunca existiram!

Mova-se para que eu possa te ver.

Janta comigo os restos de ontem

E as sobras da manhã que me levou

Enquanto dormia vulnerável.

Olha em meus olhos!

Em minha gaveta está guardada

A inútil presença sem graça da nostalgia

Que arrepia-me e traz de volta os medos

De um tempo em que dormia em teu colo

E ouvia de olhos semi

abertos tua voz emudecida

Aguardando a primavera com um sol obeso a flutuar no azul celeste.

Antes do meu sono ainda podia ver, não claramente

Uma luz amarela de estafa

Cozida em milhões de minutos vazios e apodrecidos.

Onde é que estamos agora?

Não responda.

Já não existem os porquês.

Fique aí pensando em que ano estamos.

24 de abril de 2005

Corina Sátiro
Enviado por Corina Sátiro em 22/10/2016
Reeditado em 04/11/2016
Código do texto: T5799833
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