Desabafo
Vou à escola por merenda
Mas já sei ler e escrever
Não faço mais oferendas
Pra ver se Deus faz chover
Ganho a vida na fazenda
Perco-a pra sobreviver
Meu patrão tem boa renda
Eu mal tenho o que comer
O padre conta-me as lendas
Do longo livro pra eu crer
Que devo evitar contendas
Dar o dízimo e morrer
Só eu sei da insossa senda
Que sigo por mais não ter
Puseram meu mundo à venda
E me vendam pra eu não ver
Meus pés têm lesões horrendas
Meu dorso dói... mas por quê?
Se só quero duas prendas:
Ter casa própria e você!