O dia mais bonito do mês

Desculpe,

mas naquele dia chuvoso

eu tomei os comprimidos

Era uma chuva arrasadora

Batia e debatia,

jorrando em portões e meio fio

toda a raiva do mundo

O sol se punha

No momento em que a chuva destruía a cidade

Era tarde quando meu eu arrasado sentava-se junto às paredes

Chovia lá fora, todas as lágrimas trancadas

Chovia lá fora e molhava o meu quarto

Inundava o assoalho com água gelada a altura da canela

Molhando minha pele,

enquanto o grito vinha e molhava meus comprimidos

Chovia lá fora, como chovia no meu quarto

Meu coração batia e debatia jorrando ao som dos pingos d'água

Imprimindo toda a sonoridade que se perdia no

Peito

Até que chegasse na verdadeira implosão

Tomei todos os comprimidos molhados

aguando um sono profundo que corria como um raio se trocando de minuto em minuto

Me esmagando no chão

Fazendo deitar entre mil e quatro mil vezes

Sem limites visíveis

na espera da chuva passar

Chovia na minha janela, como chovia nos meus olhos

Chovia no meu quarto, como chovia dentro de mim

Ainda molhado, não notei que era a hora de acordar

e acordei sussurrando dor... no dia mais simplório do mês

João PS
Enviado por João PS em 04/11/2016
Reeditado em 04/09/2017
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