"A vossa falta de amor a vós mesmos converte a vossa solidão num cativeiro."   (Nietzsche)



DIAS E TEMPOS I

 

Fecho os braços sobre o coração
E consigo controlar as armas nucleares.

Fora, lá,
As ruas são zonas de guerra.

Aqui, dentro do peito,
Uma tela de cristal, grande,
Exerce vigilância,
Coleta atos,
Analisa informações,
Escolhe o que projetará no mundo,
Organiza a mensagem.
Convenientemente.

 
Névoa estranha,
Estranho ar rarefeito.

Há dias que não deveriam nascer,
Os dias-tortos! ,
Verdadeiros pés-de-vento,
Cogumelos atômicos na vida.
Vivê-los é aceno de vitória
Quando o respirar vira tortura.
Cabra-cega...
Tateamos e nos deixamos tatear,
Os olhos vendados .
 
_Não mais nosso boletim de antecedentes.
_Não mais nossa declaração de impostos.
_Não mais nossa carteira de identificação.
_Não mais nosso atestado de saúde.
_Não mais nossa carta de intenções.

 
Foi-se o tempo claro
Dos olhos, espelho da alma.

Tempo armado até os dentes,
De dentes cerrados nos armamos.
Tempo estrangulado de palavras,
Pela garganta nos matamos.



 
junho/1989

foto: Nasa
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 28/07/2007
Reeditado em 17/09/2014
Código do texto: T583490
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