Quando a Menina Precisa Ir... Descoberta
A boneca inclinou-se torta dentro do nicho
Estava fria por causo do desuso daquelas mãos delicadas
Testemunha afetuosa que havia sido desde o primeiro entendimento
Que tirou do escuro a menina e a pôs sob a luz do pensar
Agora permanece inerte emoldurada e suspensa
Quebrando singelamente a verticalidade imparcial da parede
O espelho recebeu solícito a esse novo contemplar
Esse jeito inusitado desta uma que tomou o lugar daquela
Ele aprecia envaidecido por ter-lhe concedido preferência
E reflete a ela soberbamente em toda sua singularidade
Silhueta sensível radiante como a flor da onze hora
Que ao fim do dia adormece ainda com a beleza
Mas que quando acorda já em outra flor está transformada
Mas note comigo no silêncio das letras menos usadas
Pois ela ergueu a pestana por causa de uma imagem
Que viajou através do vazio até suas retinas
E a primeira luz que pertence a ela no mundo
Encontrou sua alma com as asas ainda por ser infladas
Ao se uniram alma e imagem formaram uma nova cor
Tornando a menina e a boneca duas estranhas
Que ainda se querem mas não sabem mais como se gostar
Ele era como nenhum outro neste mundo novo
Tudo nele era secreto intenso bonito inteiro
Nada mais importa e cada gesto dela continua a muda-la para sempre
Ela, essa menina que descobrimos ainda ontem tu e eu
Floresceu permanentemente não é mais flor de onze hora
O amor a beijou tornou-se orquídea
Transformou-se em plural sem ter escolha.