Atire
Atire o último verso quem nunca rabiscou
várias palavras dirigidas a um amor secreto
codificar em pensamento, acaso analfabeto
ou mentir pra si mesmo que jamais amou
Amar é voar pelo que é infinitamente finito
sentir na pele o que é difusamente abstrato
sangrar internamente em obediência ao rito
é sorrir aos ventos celebrando valioso trato
Espraiar-se na relva e adormecer ao relento
entoar canções noturnas, ensaiar dança a sós
sentir o coração bem leve - sem luz e nevoento-
gritar algo a plenos pulmões até perder a voz
Quem nunca rabiscou, pois, atire o último verso
deixe-se permanecer a alma vaga e emudecida
abandone-se por completo, fique sempre imerso
nas raias da postiça vivência vã e adormecida...