Atire

Atire o último verso quem nunca rabiscou

várias palavras dirigidas a um amor secreto

codificar em pensamento, acaso analfabeto

ou mentir pra si mesmo que jamais amou

Amar é voar pelo que é infinitamente finito

sentir na pele o que é difusamente abstrato

sangrar internamente em obediência ao rito

é sorrir aos ventos celebrando valioso trato

Espraiar-se na relva e adormecer ao relento

entoar canções noturnas, ensaiar dança a sós

sentir o coração bem leve - sem luz e nevoento-

gritar algo a plenos pulmões até perder a voz

Quem nunca rabiscou, pois, atire o último verso

deixe-se permanecer a alma vaga e emudecida

abandone-se por completo, fique sempre imerso

nas raias da postiça vivência vã e adormecida...

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 22/12/2016
Código do texto: T5860868
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