Nobre Poesia Vadia
Sempre que acaba
Vejo-me de início desejar versos novos.
Noviço rebelde sem forma
Invento qualquer troço
Que teimo em chamar
“Minha nobre poesia vadia”
Tão vaga de drummondismo
Tão vaga que não sei...
Sempre que findo a vida num ponto
De encontro vou ao novo mundo
E pinto e bordo novos ares
Como quem dá vida à marionete
Como quem pinta um quadro
E como mãe
(porque não?)
Do útero de minha mão
Pela vagina dos meus dedos
Dou a luz ao verso.
E não há medo
Tantas vezes sou bobo
Que, como bobo,
Não tenho medo de bobagens...
É sempre além minha viagem
Do horizonte humano
Da cadeia corporal
E sou a vadia a pudica o padre
E sou a puta (o bordel todo) a madre
Mas sou eu:
Em verso
Ou em prosa
Em pedras
Ou rosas
Em João Jesus ou Maria
Sou eu quem dita ritmos e formas...
Que se dane
A poesia de fôrma
Formatada!
Que se danem as regras
A retórica!
Minha arte
Arde nos olhos de um não-sei-quem
Como uma fonte de não-sei-onde
Como quem faz! E não sei o porquê,
Mas há meu lugar...
(- onde?).