A Flor e os Meninos de Aleppo
Os homens duram mais tempo e por durarem mais
Podem contar o que houve e como houve efetivamente
Mas as vezes uma criaturinha qualquer
E por causa do seu jeito peculiar
Rói a casca d'uma sebe que encontra por seu caminho
E faz o tempo parar latente
Dentro daquela vida que existia na sebe
Nisto esgota-se o meridiano do acaso
E quando acorda da latência em que se encontrava
Aquela vida que existia na sebe reage espontânea
como tivesse passado um ciclo apenas
Então brota urgente e se mostra soberba ao mundo
Tal foi assim com aquela nossa flor
Que ao acordar sem saber de tudo isso
Oferece sua beleza parecendo um louvor
Mas no seu coração inumano ela procura o seu menino
Tem ânsias em vê-lo mais crescido
Esperanças de contemplar a beleza em que se transformou
E se deixa balançar ao vento curiosa que nem se contém
Para quem sabe avista-lo por uma frestinha que seja
Nisto está entretida quando tudo se apaga numa explosão
E outra vez ela é despedaçada e arremessada ao mundo
Contudo ainda entrou nos seus poros de percepção
Uma última luz antes do escuro final
E ela pode ver entristecida já quase adormecendo
O reflexo já nas primeiras barbas do seu menino tão estimado
Sangrando chorando em desespero e dor
Se arrastando nos escombros do quintal
Vitima do entendimento deste tempo de aleppo
Então ela voltou a ser latente na sua raiz
Desejosa de um novo siclo
Desejosa que a vida ainda lhe teime
Que ainda lhe conceda primaveras que possam sara-lo
Primaveras que possam curar feridas
Feridas abertas por ignorâncias humanas
Na flor dos rostos e das almas de Aleppo.