A Flor e os Meninos de Aleppo

Os homens duram mais tempo e por durarem mais

Podem contar o que houve e como houve efetivamente

Mas as vezes uma criaturinha qualquer

E por causa do seu jeito peculiar

Rói a casca d'uma sebe que encontra por seu caminho

E faz o tempo parar latente

Dentro daquela vida que existia na sebe

Nisto esgota-se o meridiano do acaso

E quando acorda da latência em que se encontrava

Aquela vida que existia na sebe reage espontânea

como tivesse passado um ciclo apenas

Então brota urgente e se mostra soberba ao mundo

Tal foi assim com aquela nossa flor

Que ao acordar sem saber de tudo isso

Oferece sua beleza parecendo um louvor

Mas no seu coração inumano ela procura o seu menino

Tem ânsias em vê-lo mais crescido

Esperanças de contemplar a beleza em que se transformou

E se deixa balançar ao vento curiosa que nem se contém

Para quem sabe avista-lo por uma frestinha que seja

Nisto está entretida quando tudo se apaga numa explosão

E outra vez ela é despedaçada e arremessada ao mundo

Contudo ainda entrou nos seus poros de percepção

Uma última luz antes do escuro final

E ela pode ver entristecida já quase adormecendo

O reflexo já nas primeiras barbas do seu menino tão estimado

Sangrando chorando em desespero e dor

Se arrastando nos escombros do quintal

Vitima do entendimento deste tempo de aleppo

Então ela voltou a ser latente na sua raiz

Desejosa de um novo siclo

Desejosa que a vida ainda lhe teime

Que ainda lhe conceda primaveras que possam sara-lo

Primaveras que possam curar feridas

Feridas abertas por ignorâncias humanas

Na flor dos rostos e das almas de Aleppo.

Ediondo
Enviado por Ediondo em 02/01/2017
Reeditado em 02/01/2017
Código do texto: T5869498
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