Breve biografia de um homenzinho preso na garrafa
A moldura o tapava
Saiu no canto da foto borrada
Papai, doente, tremia com a máquina
Calou -se de vez chegando aos quinze
Ficou sem sal de matraca calada
Passou dos vinte e perdeu o jeito
Ficou quadrado
O cadarço apertado no tênis
Denunciava a falta de estilo
A juba e o papo esgasgado
Palhaço gago, fazia piada
Aquele ovo estralado, sua cara
E a sirene vermelha era espinha
Por puro fraquejo, casou-se sem posses
Achou dona bem feita
Virou pai, deixava a mulher tomar conta
Era um traço sua sombra
Desnutrido ficou
Desistiu do sofá
Da esposa e seu eterno tricô
Lucrou alto, descobriu que o avô
Foi dono de um quarteirão
Juntou tudo e fez um leilão
Deu dinheiro, mas gastou com mulher
Deu no pior
Meteu a cara em navalha
Fez força, liquidou dividendo
mas, falido,
dormiu em balcão de birosca
Acordou dissolvido na possa
Misturou-se ao sabor da cachaça
Virou vasilhame de pinga
E dá nome a caipirinha até hoje