Verme
Mais um dia de sua existência abjeta, ele senta-se pomposamente em seu largo banco à espera da morte que o convoca.
Aproveita seus infortúnios e transforma-os em um manto protetor que blinda sua consciência de sua própria vileza.
Abre mais uma garrafa, acende mais um cigarro, vive mais um dia.
Aceita com franqueza sua frivolidade, afundando-se em um niilismo barato para justificar sua insignificância.
Destrói a si e ao que o cerca, espalha-se como lepra, enegrece tudo o que toca, como um Midas da desgraça.
Ele sorri com perversidade.
Excita-se com as catástrofes, diverte-se ao imaginar-se o grande maestro da calamidade.
Mais um dia, mais um dia. Acorda, dorme, suja, suja.
Ele está no ar, ele está no solo, está nas paredes e no teto.
Pragueja violentamente enquanto vomita bile e rancor.
“Mamãe!” ele grita em desespero.
Ela o socorre. Ele a despreza.
Mais um mês, mais um ano.
Ele se apaixona, ela retribui.
Perde a paciência, e então a espanca enquanto ninguém pode ouvir. Ela chora baixinho e arrepende-se de tê-lo conhecido.
Ela se vai, ele permanece. Bebe mais uma garrafa.
Mais um dia, menos um dia.
Teme como uma garota indefesa, arrepende-se de tudo.
Faz tudo novamente.
Mais um gole resolverá! Mais um gole resolverá!