Uma outra visão
Daquele careca do inferno
Que no seu tempo construiu-se como fingido
Peço licença aos muitos que ele foi
Mas nem pego muito dos seus fingimentos
Meus versos são uma bosta
E bostas não precisam fingir
Bostas não precisam ser outra coisa
Nem lhes importa nada
Do que as verdades e mentiras dizem
Ela só quer ser bosta sem fingir
Os versos só querem ser versos
Sem nada ter que dizer ou fingir
Pois quando na barriga ainda não era bosta
Na ideia nem era nada
Mas depois que virou bosta
Moveu quem tornou bosta em verso
....
Quando vazam para o mundo os versos
Pertencem às palavras que o formam
Dizem o que dizem singular
Sem nunca precisar fingir
Sem precisar das favas humanas
Quem finge é quem pega deles emprestado o que precisa
Por causa do que a angustia causa
Nesse nosso diverso viver
Por que quando sara da sua dor
Num canto o esquece ainda vibrando
Sem saber que ao nascer do verso
Causa também ao poeta um pouco
Desse imenso nosso sofrer
Que na hora nem fingia nada
Mas vibrava ao dar-lhe luz
Pra que combatesse os inversos e reveses
Que desalinham o chão
E aos homens fazem cair.