As estações (parte 2)
II
Chora, também, sobre uma pedra ante o rio de tuas próprias lágrimas.
Vê um barco flutuar sobre as ondulações da memória,
Mal impressas ainda no teu corpo lívido de alma.
Tu, oh nômade, na tua primeira jornada,
Já sentes a miséria que o Outono arrasta!
O sol vai deitando na cama do horizonte e fecha as pálpebras.
A lua boceja e se ergue altiva e vai te iluminar o rosto.
Não durmas! Segue o caminho iluminado que se abre...
Segue a pantera que anda sorrateira por entre os arbustos.
Esquiva-te de seus olhos amarelos; segue a trilha de suas pegadas.
Os homens, alma, vê como tremem diante de uma fogueira minguada!
Vê como gelam quando as línguas de fogo se extinguem!
Eis o fogo que incita o coração a loucuras; eis o fogo que reforma o mundo!
“E o que mais podem fazer os homens
Quando o vento lhes arranca a chama dos olhos?”
Lá se vai a alma carregando uma tocha
Cuja luz desvela as marcas de ruína dos montes,
A pobreza das campinas, a deficiência da vida.
“E esta chama se apaga, como tudo se extingue.
A noite desfaz seu toldo de estrelas
E o sol vai erguendo a fronte.”
... um vagalume veste sua casaca e desaparece...