Tristezas Que Envelhecem Casas

Do rosto escuro e áspero do asfalto

O calor se eleva desumano através do vazio

De cada lado da rua que a todos escoa

O concreto gastado conta a história miúda

De cada alma que ali se assenta ou se assentou

A oração da mãe contrita de joelhos

Expulsa um pouco as amarguras caladas no osso

Pelo longo tempo existindo despedaçada

A porta velha e desgastada

Concebida d'um carvalho que outrora reinava logo ali

Que tem por escudo a ferradura do motor primeiro

Ainda resiste ao mal sem nunca lhe ceder quartel

Mas a rua tem muitos demônios violentos

Que conspiram sem intervalos pelas sambras

Diante da desatenção da lei ou até no sono breve de toda mãe

Daquela nossa contrita e resiliente

Engoliram todos da sua prole esplêndida

Agora os cômodos do seu castelo roído

Tem um silêncio que fala na penumbra

Coisas que a solidão lhe diz ao ouvido

Que a sua saudade não pode ser matada

Sobrou só um fosco tristonho nas retinas

E uma esperança renhida de tanta súplica

Que suas carnes lhe deixem ir

Porque este seu tempo falhou

Como a um feijão que abriu flores

E aguardou a chuva que nunca veio.

Não é uma contrariedade o dizer categórico, que os homens produzem feiuras na mesma proporção que belezas. Mas há singularidades que possuem belezas simplesmente por que possuem, independem da razão humana para lê-las como belas. Uma dessas grandezas é o amor de mãe, quando um amor de mãe é ferido, a dor que resulta não pode ser curada. Ela sofre enquanto vive, porque a beleza do seu amor não morre, vai se transformando numa saudade que gruda na vida, pois o amor que era dado a um filho que não vive mais, desacredita a razão de senti-lo pela mãe ficou ainda no mundo. Ela vai amar de novo, mas será um amor novo, pois a vida sempre da um jeito.

Esses versos amargos, ai de riba, são para lembrar o sofrer das muitas mães que tiveram seus filhos tirados de si, de perto do seu calor, por causa das violências irracionais de que os homens são capazes de conceber. Filhos que enterram seus pais são um bom auspício, quando ocorre o contrário, a menos que seja uma coisa da natureza, o povo comenta através do tempo, e sempre há quem se lastime, pois tal, contraria a lógica da própria vida que nos anima.

Creio, também seja esse um ofício da poesia, versejar sobre sobre realidades aonde o amor acontece de outro jeito, é uma forma muito intensa de amar, embora ali, o amor faça doer e não sorrir.

Ediondo
Enviado por Ediondo em 11/02/2017
Reeditado em 20/03/2018
Código do texto: T5909734
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