PERSPECTIVA
Grávida
A lua cresce
Cresce
Desaparece e se repete
..E nada do trem
Incendeiam
Trilhos ao sol
Orgulha-se o ferro
Na Passagem
Do ouro
...E nada do trem
Frio e chuva
Desafortunados
Exaustos
Dormem
Nos antigos
Dormentes
...E nada do trem
Verdejam campos
No canto dos pássaros
...E nada do trem
Ao sol
Escaldante
No galho
Ressequido
Da árvore
Túnica escarlate
Jaz enforcada
...E nada do trem
Soturna
Solidão
Acomoda-se
Nos bancos
Da estação
...E nada do trem
Em direção
À ausência
Super luas
Empalidecem
Metais equidistantes
Paralelas
Argênteas
Convergem
Sumidas
Ao alcance
Dos olhos
...E nada do trem
No abandono
Da vegetação
O vento
Desfia embates
Corta canções
São vitórias pífias
Derrotas honrosas
...E nada do trem
O Ermitão
A contragosto
Vai Arrastado
Nas gravilhas
Da ferrovia
Em dança
Corajosa
O Valete de espadas
Enfrenta redemoinhos
Ao acaso
Cartas de tarô
Ondulam
Na ventania
...E nada do trem
Sombras
Doutro mundo
Eriçadas
Divagam
Sobre os trilhos
...E nada do trem
Descem
Labaredas
Do céu
Golpeados
Pela chuva
Revoltam-se
Os ares
Um grito
Inaudível
Apelo
Inútil
Varre
O abandono
...E nada do trem
No roteiro peremptório
Da sorte
Lábios do sonho
Beijam a morte
E nada do trem...