A decisão.

Em pé, debruçado sob um paredão lilás, observo os transeuntes e os carros que voam desesperados...

Uma lágrima desce insolente enquanto contemplo o negro céu e recebo a brisa fresca da noite, buscando nessa sensação gélida a paz nunca sentida.

Fecho os olhos e num instante tudo a minha volta se transforma: a vida vence o moralismo.

Busco inspiração nas tardes quentes e empoeiradas e foi assim (buscando inspiração) que me resolvi.

Por toda essa vida notei com olhos frios e calculistas que a verdade é um mal inalcançável e mesmo os que a buscam não a querem de fato.

E é por isso... Por causa desse vento frígido e dessa sombra petulante que me analisa inanimada e desse mal que habita a todo mortal que marcho em direção ao meu limite.

Escolho as escadas, pois não posso conviver comigo mesmo em um ambiente tão quadraticamente fechado. Meu progresso é lento, em cada degrau uma clemência, mas sou irredutível. Cumprimento alguns, balbucio palavras educadas a outros, mas quem se importa?

E com pensamentos inescrupulosos chego ao êxtase dessa breve caminhada. Na sacada elegante do edifício, ponho-me em pé. A brisa antes fresca agora é maliciosa e acaricia meu rosto como um beijo de adeus.

Como um trapezista circense eu salto antes de alguma intervenção olhando o teto de um carro qualquer que aplacará a minha queda.

Segundos depois estarei em alguma extremidade do globo terrestre.

É o fim!

MSSilva
Enviado por MSSilva em 19/03/2017
Código do texto: T5945879
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