A decisão.
Em pé, debruçado sob um paredão lilás, observo os transeuntes e os carros que voam desesperados...
Uma lágrima desce insolente enquanto contemplo o negro céu e recebo a brisa fresca da noite, buscando nessa sensação gélida a paz nunca sentida.
Fecho os olhos e num instante tudo a minha volta se transforma: a vida vence o moralismo.
Busco inspiração nas tardes quentes e empoeiradas e foi assim (buscando inspiração) que me resolvi.
Por toda essa vida notei com olhos frios e calculistas que a verdade é um mal inalcançável e mesmo os que a buscam não a querem de fato.
E é por isso... Por causa desse vento frígido e dessa sombra petulante que me analisa inanimada e desse mal que habita a todo mortal que marcho em direção ao meu limite.
Escolho as escadas, pois não posso conviver comigo mesmo em um ambiente tão quadraticamente fechado. Meu progresso é lento, em cada degrau uma clemência, mas sou irredutível. Cumprimento alguns, balbucio palavras educadas a outros, mas quem se importa?
E com pensamentos inescrupulosos chego ao êxtase dessa breve caminhada. Na sacada elegante do edifício, ponho-me em pé. A brisa antes fresca agora é maliciosa e acaricia meu rosto como um beijo de adeus.
Como um trapezista circense eu salto antes de alguma intervenção olhando o teto de um carro qualquer que aplacará a minha queda.
Segundos depois estarei em alguma extremidade do globo terrestre.
É o fim!