ANDARILHAS - PARTE I

Ela acordou

no meio do caminho

escuro

a meio caminho

de uma vida inteira já percorrida.

Estava cega

no escuro parecia feliz

sem fazer conta da alegria de sentir

o sol queimar a pele no fim do inverno.

Sobreviveu esquecida no interior de si mesma

como se dormisse numa caverna

alimentando-se com sobras e migalhas atiradas por homens

que lhe sorriam sarcásticos do lado de fora.

Seu corpo era flâmula esquálida,

tremulava sombra projetada na contraluz

de um mundo exterior que não conhecia.

Como você, ela nasceu escrava de olhar e não saber ver...

Mas um dia,

um dia tão escuro como este em que lhes narro,

ela estremeceu profundamente, saiu fora de si

e ergueu-se outra dando as costas ao mundo que tateava.

Afastou-se dali abrindo com as mãos uma clareira

na luz quente do dia - êxtase que quase a matava.

Hoje ela sabe estar no caminho sozinha nunca mais

e com outras andarilhas caminha.

Assim ela acordou um dia

acordou no meio do caminho

no caminho escuro apenas por palavras iluminado.

Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 29/03/2017
Reeditado em 06/04/2017
Código do texto: T5955042
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