ANDARILHAS - PARTE I
Ela acordou
no meio do caminho
escuro
a meio caminho
de uma vida inteira já percorrida.
Estava cega
no escuro parecia feliz
sem fazer conta da alegria de sentir
o sol queimar a pele no fim do inverno.
Sobreviveu esquecida no interior de si mesma
como se dormisse numa caverna
alimentando-se com sobras e migalhas atiradas por homens
que lhe sorriam sarcásticos do lado de fora.
Seu corpo era flâmula esquálida,
tremulava sombra projetada na contraluz
de um mundo exterior que não conhecia.
Como você, ela nasceu escrava de olhar e não saber ver...
Mas um dia,
um dia tão escuro como este em que lhes narro,
ela estremeceu profundamente, saiu fora de si
e ergueu-se outra dando as costas ao mundo que tateava.
Afastou-se dali abrindo com as mãos uma clareira
na luz quente do dia - êxtase que quase a matava.
Hoje ela sabe estar no caminho sozinha nunca mais
e com outras andarilhas caminha.
Assim ela acordou um dia
acordou no meio do caminho
no caminho escuro apenas por palavras iluminado.
Baltazar