Sono, jazz e as bacantes
Incoerência do breve,
urgência do espasmo,
as damas loucas dos meus sonhos
agora frias,
em folia na correria contida
(compravam frascos de palavra vazia, como já me viu comprar)
e você do outro lado ria, ria, ria...
Reabriram as cortinas vermelhas
e eu dessa vez via
você lá dançando com aquelas bacantes sorridentes,
minhas mãos naquele instante sabiam o tamanho verdadeiro do vazio...
Eu quase gritei seu nome,
e quando acenderam a luz da lua
soluçávamos em dó maior,
e um sustenido
sustentava seu silêncio dum susto que era meu.
Cretina aparição dos ensejos,
e os traços do amor de braços curtos e calças largas
se perdiam entre os cabelos sujos daquelas bacantes que rasgavam as cortinas.
Fizestes samba da nossa sorte,
e a nossa escola não desfilou,
e eu que só te quis para o meu jazz...
Hoje tudo jaz,
até nossa saudade,
mesmo com tanta claridade,
as margaridas ainda morrem no verão...
Naquele inverno
em que minha letra sozinha
só traduzia a rigidez do estrago,
eu descobri
que nem todos os versos são de amor,
e que no inferno
não é tudo que grita que sente dor...