Sono, jazz e as bacantes

Incoerência do breve,

urgência do espasmo,

as damas loucas dos meus sonhos

agora frias,

em folia na correria contida

(compravam frascos de palavra vazia, como já me viu comprar)

e você do outro lado ria, ria, ria...

Reabriram as cortinas vermelhas

e eu dessa vez via

você lá dançando com aquelas bacantes sorridentes,

minhas mãos naquele instante sabiam o tamanho verdadeiro do vazio...

Eu quase gritei seu nome,

e quando acenderam a luz da lua

soluçávamos em dó maior,

e um sustenido

sustentava seu silêncio dum susto que era meu.

Cretina aparição dos ensejos,

e os traços do amor de braços curtos e calças largas

se perdiam entre os cabelos sujos daquelas bacantes que rasgavam as cortinas.

Fizestes samba da nossa sorte,

e a nossa escola não desfilou,

e eu que só te quis para o meu jazz...

Hoje tudo jaz,

até nossa saudade,

mesmo com tanta claridade,

as margaridas ainda morrem no verão...

Naquele inverno

em que minha letra sozinha

só traduzia a rigidez do estrago,

eu descobri

que nem todos os versos são de amor,

e que no inferno

não é tudo que grita que sente dor...

Amanda Cristina Carvalho
Enviado por Amanda Cristina Carvalho em 07/08/2007
Código do texto: T596517
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