Solidão

A existência da solidão tem como cerne o profundo desconhecimento de si mesmo. Pois quem se conhece faz do eu um cais onde se ancora e interage com a pluralidade intrínseca do ser, fazendo de si, sua própria companhia. A solidão é ilusória. Relativa. Há bem mais solidão nos estádios de futebol do que no quarto de alguém que compreende, aceita, e é sincero com teu verdadeiro ser. Ocorre que desde o nascimento somos soterrados com avalanches de informações que pouco ou nada tem haver conosco. Dão-nos um nome, cep, instruções pautadas em ilusões sociais, enviam-nos para a escola que nos moldará perante as raias andróginas de uma civilização composta de programações que transformam seus habitantes em números, estatísticas. As pessoas já não mais sabem quem são, todas confusas, medrosas, desconhecem a si mesmas, seus gostos, desgostos. O homem contemporâneo é um autentico robô. E assim cresce a carência como praga biológica se alastrando em epidemia atingindo quase toda a coletividade humana. E da carência, surgem manipulações. Chantagens emocionais. Te fisgam pelo emocional. A solidão incide quando a carência passa ao grau de necessidade e você degenera as pessoas tendo a elas como ao ar. Nada disso seria preciso se tivesses ao menos uma gota de sensibilidade sobre si. As companhias não seriam questões vitais, mas opcionais. Você e você dançando nas lonjuras siderais da tua alma. Infinda. Celebrando a morte da solidão.

Cristiano Corrêa
Enviado por Cristiano Corrêa em 10/04/2017
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