TALHADO

E o escultor desavisado

deixa sua obra ao relento

solta ao sabor do vento

e se irrita com desprezo

da matéria pelo tempo

frente às ações sem dono

da obra que não mais é sua

tem vida autônoma de vontades.

Não lhe agrada a liberdade

do que um dia foi criado

com amores e apreços seus

lhe atormenta tal vaidade

da reles criatura viva

que outrora foi corpo morto

“Pobre escultor!”

“Não sabe que obras não têm dono?”

“são feitas da arte para o mundo.”

E ele se vê diante de si

pelas costas da verdade

de que um dia virão esculturas

ou o verão esculpido

enganado e enganando

frente as obras de cada primavera

sem dono,com vida

com choro,com idas.