RETIRANTE SOMBRIO

Passa a viva a vagar, o retirante

Que nada sente a não ser solidão

Nada, nem rastro de amor ou paixão

Em suas longas veias fecundantes

Das catástrofes da vida, sobrevivente

Tão morto quanto qualquer defunto

Se veste ao sair sem puxar assunto

Seguindo a sua velha trilha decadente

Rumo a não se sabe qual cemitério

Seu ríspido e sério olhar pragueja

Vomita cigarro, fuma a cerveja

Um vulto, apenas... nada sério!

Assim como as sangrias medievais

Sangra em cada esquina que para

E tudo aquilo que pensa se equipara

A podridão trazida pelos temporais

Guerrilheiro das vontades encobertas

Nas noturnas praias desertas, senta

Assiste ao mar de vastidão corpulenta

A se imaginar em aventuras incertas

Nada seria mais belo para ti, oh retirante!

Do que a vida curta de um desbravador

Tendo sua porção de prazer e horror

No rastro fugas de intensos instantes

Mas tu... tu apenas se arrasta solitário!

A ranger os dentes nas estradas sombrias

Talvez a espera do final dos tristes dias

Para juntar as mãos em um escapulário

Se toda a violência do teu ser se expandir

Oh! Reprimida figura de mil perversões

Não sei o que será de tuas amargas ações

E que mostro surgirá das sombras a sorrir

Sorrindo e gritando inúmeras injúrias

Se rejubilando por atos grotescos

Sem perdoar idade ou parentescos

Seduzido pelo doce sussurras das Fúrias...

Mas não lhe nego moradia, retirante sombrio

Forte e silencioso quanto um rio sem foz

Que se faz presente em cada um de nós,

A nossa terna porção de violência e vazio.

Neto Henrique
Enviado por Neto Henrique em 10/05/2017
Código do texto: T5995318
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