RETIRANTE SOMBRIO
Passa a viva a vagar, o retirante
Que nada sente a não ser solidão
Nada, nem rastro de amor ou paixão
Em suas longas veias fecundantes
Das catástrofes da vida, sobrevivente
Tão morto quanto qualquer defunto
Se veste ao sair sem puxar assunto
Seguindo a sua velha trilha decadente
Rumo a não se sabe qual cemitério
Seu ríspido e sério olhar pragueja
Vomita cigarro, fuma a cerveja
Um vulto, apenas... nada sério!
Assim como as sangrias medievais
Sangra em cada esquina que para
E tudo aquilo que pensa se equipara
A podridão trazida pelos temporais
Guerrilheiro das vontades encobertas
Nas noturnas praias desertas, senta
Assiste ao mar de vastidão corpulenta
A se imaginar em aventuras incertas
Nada seria mais belo para ti, oh retirante!
Do que a vida curta de um desbravador
Tendo sua porção de prazer e horror
No rastro fugas de intensos instantes
Mas tu... tu apenas se arrasta solitário!
A ranger os dentes nas estradas sombrias
Talvez a espera do final dos tristes dias
Para juntar as mãos em um escapulário
Se toda a violência do teu ser se expandir
Oh! Reprimida figura de mil perversões
Não sei o que será de tuas amargas ações
E que mostro surgirá das sombras a sorrir
Sorrindo e gritando inúmeras injúrias
Se rejubilando por atos grotescos
Sem perdoar idade ou parentescos
Seduzido pelo doce sussurras das Fúrias...
Mas não lhe nego moradia, retirante sombrio
Forte e silencioso quanto um rio sem foz
Que se faz presente em cada um de nós,
A nossa terna porção de violência e vazio.