Coração Covarde

Atado a ti,acerba solidão,

Jovem desespero e vivo de ilusão

Em cujo trágico,espesso véu,

Sonho nas esperanças do céu.

Louco ideador fujo do mundo,

Renego a beldade por mim a arder

E,acostumado a queixa cadenciada

Vejo,em desalento profundo,

O tempo em vão se desfazer

Sem os gozos da turba sensual,sem nada

Que me abrande o duro padecer

Em que frio deliro da invernada

E a mim mesmo me dói me conhecer.

Sou lírico puro em gosto depravado

E para o forte amor me fiz covarde

Detesto a virtude que me persuade

Meus passos a rojar longe do pecado

Das meretrizes,cujo balsamo dolente

È o gume duro,asco revoltado,

Capaz de tornar o coração doente

E em numeroso pranto desatado

Me barra a dita do eu ser contente.

Mas enquanto eu for réprobo covarde

Adeus, ditosa alegria das flores.

Onde enfim hei de ter amores

Se o coração medroso persuade

Dores após sentidas dores

Fugir aos encantos da tarde

Parque onde reverberam licores

De amorosissimas uvas

Educadas a usar luvas

De falsa polidez e de recato

Mas, qual? Nosso lírico palato

Dá arrojo as palavras vivas

Sem compostura,dadas musas,

Se tornam fadas dadivosas.

Sangra triste meu coração

A em vão perdida inocência

Entre ordas de putas alvares.

O alentado sonho da paixão

Da nobre, vivida experiência

Se dilui pelos ares.

Entrevejo fatal corrupção

No albergue das grandes alegrias

Com que a mulher,flor amante

Ensaia um mar de suas litanias.