Menino, poesia não dá dinheiro!
Perdido entre folhas e rabiscos,
amontoado de contas e calculadoras nunca utilizadas
sinto-me peixe fora do aquário, lápis sem grafite,
puta sem grana.
78 cartas marcam meu tarô,
minhas cartinhas de memorização
e o número de vezes que pensei em acabar com tudo.
Em frente a mim vejo uma prateleira de saudades:
a pirâmide de Caxambu,
o barquinho de Porto Seguro, a Coruja de Taubaté,
o Filtro dos sonhos de São Thomé, o Balão de Paraty,
o livro de Amsterdã,
o copo personalizado do festival de São Paulo
e duzentas fotos reveladas do nosso amor.
No armário ainda guardo a jaqueta de couro,
a bata indiana e a carteira que só cabem cartões,
guardo o “slow motion” do seu caminhar,
a pizzaria e ovos de páscoa flutuando sobre lixos mentais.
escrever sobre sua pessoa ainda me causa arrepios,
e todos os corações que quebrei após sua partida
foram irresponsabilidades que assumo o peso da culpa.
Se hoje sou isto aqui, não devo a você
devo a mim, devo somente a mim.
Não há motivos pra expor minhas falhas em praça pública
eu não me esqueci delas.
A miudeza do seu caráter confortava,
pois era negativa e bela,
artística! Pesadelo vivo.
Eu queria me envolver com sentimentos humanos,
Hoje entendo. Entendo os adoecidos.
Tinha razão, escrever não dá dinheiro,
mas esse saldo espiritual não se acha em qualquer banco,
esta é minha música,
meu céu, o inferno dos outros.