O neto da poesia
No meio do caminho havia um poema
A tristeza e a preocupação assolam
Mas, no meio do caminho, havia um poema
A dor imensa persiste e esmaga e aflige
Mas no meio do caminho havia um poema
A paralisia chegou e abateu e congelou.
Só que o poema não mais havia
O caminho não mais havia
As passadas esmagaram o poema e a melodia
Foram embora o sonho e a alegria
As lágrimas queimaram o rosto
O peito foi rasgado
A garganta cortada
O coração exposto
A alma desnudada
Havia uma letra caída e uma nota perdida
Outras letras no meio da poeira...
Uns sons saídos dos cacos
Eis os primeiros versos e os primeiros acordes
Uma estrofe! Outra estrofe! Outra! Outra!
Ouço o melodia e sinto o ritmo!
Por sobre minha cabeça há um poema
Aos lados, a frente e atrás há um poema
Meus pés tocam um poema
Eu respiro e vejo e sinto e ouço poemas
Bato no peito
Estalo os dedos
Finco os pés
Sacudo os braços
Balanço as pernas
Eu sou o poema
Filho da dor e da alegria
Filho do mundo inteiro
Irmão da música
Neto da poesia