O neto da poesia

No meio do caminho havia um poema

A tristeza e a preocupação assolam

Mas, no meio do caminho, havia um poema

A dor imensa persiste e esmaga e aflige

Mas no meio do caminho havia um poema

A paralisia chegou e abateu e congelou.

Só que o poema não mais havia

O caminho não mais havia

As passadas esmagaram o poema e a melodia

Foram embora o sonho e a alegria

As lágrimas queimaram o rosto

O peito foi rasgado

A garganta cortada

O coração exposto

A alma desnudada

Havia uma letra caída e uma nota perdida

Outras letras no meio da poeira...

Uns sons saídos dos cacos

Eis os primeiros versos e os primeiros acordes

Uma estrofe! Outra estrofe! Outra! Outra!

Ouço o melodia e sinto o ritmo!

Por sobre minha cabeça há um poema

Aos lados, a frente e atrás há um poema

Meus pés tocam um poema

Eu respiro e vejo e sinto e ouço poemas

Bato no peito

Estalo os dedos

Finco os pés

Sacudo os braços

Balanço as pernas

Eu sou o poema

Filho da dor e da alegria

Filho do mundo inteiro

Irmão da música

Neto da poesia

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 15/06/2017
Reeditado em 09/12/2020
Código do texto: T6028306
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