Unsafe

Eu uso drogas!

eu uso drogas - para abastecer o silêncio

de minha sinapse altamente voltaica

(grunido-caporal que não retomo),

para abastecer o salário insensato

do primeiro estoque,

do primeiro cisma - quadriênio de cismas -

da vindima que não repousou sobre o lucro.

Eu uso drogas!

Homem-quaternário

à disposição da primeira mancha.

Minha corrida contínua pelo corpo transversal

reprimido de lama.

Eu uso drogas, eu uso drogas

e, embora não haja receio,

eu uso drogas

quando enxovalhado pela vida que falta.

Não há esmero, apenas loop contínuo,

dicção exagerada de pequenos restolhos

pelo homem que fui

ou que deveria - ter sido.

Eu uso drogas!

para o paladar insatisfeito de fome -

transfiro a digestão para o cérebro em marcha

e denoto - como quem tem crise

quando por soma de prestação deletéria

faz juros à caderneta de banco e apaga -

a conveniência de ser -

Corroem-se vigas, veias, junco, tronco

o homem inteiro se preciso: dois braços em cancro -

e não basta -

À meio-fio da navalha da morte, conduzo o espasmo

e faço festa ao corista que reproduz meu enterro -

nada há de servir, homem-gauche! - e não basta -

Guilherme Furtado
Enviado por Guilherme Furtado em 17/07/2017
Reeditado em 17/07/2017
Código do texto: T6056593
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