O mundo dita

Tenho uma cadela

cujo nome não dei,

só emprestei

Se fosse amiga dela,

anotaria seus latidos

e, como soassem aos ouvidos,

chamaria todo pelo e toda costela.

Mas sou sua dona,

o que traz à tona

meu lado não criado,

ganhado do mundo,

esquecido no fundo.

Se não trouxesse a lembrança

de sermos frutos dessa

simplicidade

e complexidade

chamada “acontecer”,

poderia olhar nos seus olhos com esperança

de um acaso movido pela pressa

para a identidade

e a sanidade

me devolver.

Ela mesma não me chama

do meu nome humano

nem sequer me late,

só me engana

com seu rabo em abano

ou sua cauda em riste.

Aprendi, então, a aceitar

que o mundo não me fez cadela.