Adubo ôntico

A língua solta revela a tão buscada verdade.

Que o coração sentia e acuado escondia,

no fundo de suas entranhas.

expondo o lombo ao relho, faz marejar os olhos

e faz cair as escamas.

Viver é um pouco sentir e outro tanto é saudade.

Mas a vida tem outras manhas, em suas razões estranhas.

Guardando no mais secreto, o sonho o desejo e o afeto.

E o coração com as razões que a própria razão desconhece.

Ora entoa canções e ora lamenta em uma prece.

No ventre remexe um ser, lindo e formidável,

Mágico e discreto, cresce no ventre o rebento...

Ninguém pergunta ao feto, se quer viver o suplício

de nascer neste hospício, de lamento...de lamento!

Fico a pensar se é pena de cumprimento cogente.

O germinar de uma vida, o estrear na barriga.

Se o nascituro é apenado, por crime tão hediondo.

Ter que nascer e ser gente, eu fico aqui cismando...

Enfim acho que descubro o que há tempos intriga,

E descortino o porquê da gente nascer chorando.

Mas sei que Deus é sábio e em tudo tem propósito.

Eu e você somos refugo, um pouco mais que sucata.

E o feto uma tentativa no tempo certo abortada.

E este mundo de espera é tão somente um depósito.

Mas há quem enxergue na vida uma razão sufragada.

Ser raiz e gérmen do amanhã, um adubo do porvir.

Mas tem que ter uma causa de a gente existir...

Ser mais que só adubo, mais que uma simples cagada.

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 19/08/2017
Reeditado em 19/08/2017
Código do texto: T6088745
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.