Retrato do poeta quando velho

A medida da beleza é sempre o outro

Mesmo que velho e roto

É um rosto a se espelhar

Mas o brilho d'outrem também embassa

Ponho-me a mourejar

Não tenho mais a pretensão dos jovens

Tive

Não tenho mais

Quando jovem

Escrevia qualquer asneira em duas estrofes

E logo emuldurava e dependurava na sala de jantar

Em letras doiradas

De chofre

Hoje escrevo e amasso

Cuspo em cima

E engaveto

Espero

Quando madurar as desenterro

Da pilha de papel

Dos meus restos

Reconstituo um verso

Outro risco

Arrisco e erro

As métricas já nem meço

Formam-se imagens

Esquecidos rostos

O meu próprio

Que me mostra um quadro todo

Meu retrato

Estou velho e insosso

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 09/09/2017
Reeditado em 16/09/2017
Código do texto: T6109206
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