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               Belicosa Primavera
 
                            I

Chegou setembro rasgando todas as máscaras
De semideuses que em belos palcos atuavam,
Mais tensos que um imperador em Waterloo,
Mais frágeis que qualquer pensamento.
Havia santos, mas que nunca rezavam!
Havia anjos com asas de mosca azul.
                             II
Era a terra brasilis – muito altar e pouco Deus –
Onde o vento tropical varria falsos clamores
Das desonradas bocas de figuras austeras.
Do rei ao vassalo, sempre a nefasta história.
E a Terra dos Candangos a perverter suas flores,
Sinalizando, assim, uma belicosa primavera.
                           III
Enfim, à noite dos justos, um fabuloso sonho:
Voltava o Adamastor, furioso, dedo em riste...
Da boca lhe pendia a carta do Enforcado;
Nos olhos – duas espadas que serpenteavam.
Porém, ao final, era ele figura muito triste;
Tremia Adamastor – um monstro amedrontado...
                          IV
 Ah, eu tive pena do Adamastor, o Gigante!
Seria, meu Senhor, intempestivo sentimento?
Dai-me um pouquinho do Canto IV de Camões:
“Depois de procelosa tempestade,
Nocturna sombra e sibilante vento,”
Que vença a primavera entre flores e canhões!
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Imagem: Internet.