Migalhas
vou voar nessa alvorada
no primeiro vento
e levar as migalhas caídas
desse pão na tua boca...
meu peito arde queima fende
por um triz
partido em dois
como você quis
cada olho que tenho
assombra o rastro perdido
do homem que nunca fui
minhas pernas carangueijam
pra que lado?
com que fardo?
torto
triste cego
morto
era um ogro que comia ódio
e nunca engordava,
cuspia cinismo
e se refestelava
na lama da casa de cera
agora ele dorme,
agora ele apaga
e morre tranqüilo...
você, babando migalhas
sem nunca pagar pelo pão
você, recolhendo as dúvidas
na bolsa cheia de nãos:
é seu troco. Guarda.
É meu beijo seco,
minha morte
lenta
mas cada olho que vejo
é orvalho do meu sereno
e incandescentes olhares
me seguirão de manhã:
- o ogro partiu!
o ogro partiu,
vocês já podem
sorrir.