Urubu só na cruz

Agora estou a sós

eu e a cruz

a sós

eu e a solidão

a sós

eu e minha voz

Vou pensando que a vida sou eu

o vento é uma música

que faz as águas dançarem no céu

O calor toca o vento

voa a água

vou chorar no quentinho

Foi-se o tempo da cruz desabitada

Hoje pouso aqui

Sou o agora o tudo

no nada no infinito

Sou aquele que respeita a morte

um verme de asas

um feio bonito

Todas as asas são dignas de admiração

bato elas no sol

boto elas no vento

penas se despedem nas curvas

o último voo é um tombo leve

No pé deste poleiro

lixo formigas velas

as vezes maconheiros

conversam riem reza

Sou da morte

por isso amo o verde

a vida o dia

a clorofila

Quanto mais vida mais morte

mais pro sul

mais ao norte

O equilíbrio do universo aprendi voando e ventando

versos

Minha cabeça é o sol de asas

Se choro chove

tormento vira graça

Quando a cruz reta tá

O percado torto tá

também

É a reflexão do Urubu

jogando raciocínio fora

brincando com ninguém

Poeta Pires Pena
Enviado por Poeta Pires Pena em 22/10/2017
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