Urubu só na cruz
Agora estou a sós
eu e a cruz
a sós
eu e a solidão
a sós
eu e minha voz
Vou pensando que a vida sou eu
o vento é uma música
que faz as águas dançarem no céu
O calor toca o vento
voa a água
vou chorar no quentinho
Foi-se o tempo da cruz desabitada
Hoje pouso aqui
Sou o agora o tudo
no nada no infinito
Sou aquele que respeita a morte
um verme de asas
um feio bonito
Todas as asas são dignas de admiração
bato elas no sol
boto elas no vento
penas se despedem nas curvas
o último voo é um tombo leve
No pé deste poleiro
lixo formigas velas
as vezes maconheiros
conversam riem reza
Sou da morte
por isso amo o verde
a vida o dia
a clorofila
Quanto mais vida mais morte
mais pro sul
mais ao norte
O equilíbrio do universo aprendi voando e ventando
versos
Minha cabeça é o sol de asas
Se choro chove
tormento vira graça
Quando a cruz reta tá
O percado torto tá
também
É a reflexão do Urubu
jogando raciocínio fora
brincando com ninguém