Como se

De todos os seres que me desconcentram

A chuva é a quem sou mais permissiva

Acolho sem licença

Ou arremedo de perdão

Em casa

A sua e minha casa

Tão úmido chão

São meus pensamentos.

E assim no mesmo desaguar

Em que me rouba a cena

Deixo que aconteça

Àqueles que vêm na garupa

Como o vento com trejeito 

De gente aventureira

Modo de despentear meus cabelos

E fazer clarão pela casa.

A chuva desdobra meu tempo

Me divide em tantas

Quantas vezes

Ainda não havidas

E eu fico dela escorrendo

Como se

Água em movimento fosse espelho

E barulho de queda fosse música

E talvez sejam

Pra que eu possa me ver dançar

Sobre um par de gotas

Como assim se sabem

Os bêbados e os equilibristas.